Ouvindo a Vontade
Eu andei sumida daqui. Na verdade, mais que sumida, estava sufocada. São tantos destemperos, dores da alma e do corpo que eu fui ficando assim, pequena.. Pequenina… Cada vez com o coração mais apertadinho.
Quando o coração aperta, a mente esvazia e a vontade de escrever vai cada vez mais se tornando isso: só uma Vontade. Um querer meio sem querer qerendo que vai ali, se escondendo entre uma e outra lágrima. Se espantando com as raivas e observando quietinha os dissabores do mundo. Vendo a minha alma verborrágica lutar contra o dia a dia e olhar com uma certa nostalgia para Ela.
E mesmo contra toda a lógica, a Vontade continuou e perseverou. Sempre viva e inabalável esperando atenta por uma fresta na dureza da descrença e na frustração pandêmica, quando poderia se insinuar novamente. Assim de mansinho, sussurrando para os dedos endurecidos e o cérebro, barulhento demais para ser ser coerente.
Diz o ditado: quem espera sempre alcança.
Então, a Vontade, num dia muito ruim, cheio de turbulências e num turbilhão de desengano fez sua voz, geralmente suave e gentil, reverberar acima de toda agitação. Imperiosa, deu uma ordem irrecusável: Ei, você, sente-se e escreva qualquer coisa!
Ai de mim, se a contrariasse! Obedecendo a Vontade, gritei eu para o cérebro que se aquietasse e os dedos obedecessem… Já a alma, essa não responde bem aos gritos e ordens, ela precisa ser atraída com gentileza e alimentada de imaginação. Um processo laborioso e lento que exige dedicação e a prática frequente da escrita. Então, deixei-a para depois. Hoje vamos sem alma mesmo, só obedecendo as ordens da Vontade que esperou tão quietinha. E agora, voltou ao centro do ser como a rainha que sempre foi.
Por isso, peço humildemente aos meus camaradas um pouco de indulgência com tão mal traçadas linhas, mas precisava atender a Vontade que transbordava exigente.